Doral, FL
Tenho sede. Sede de amar, sede de gargalhar, sede de cantar.
Tenho sede. Sede de amar, sede de gargalhar, sede de cantar.
Cede amor, cede, as amarras do passado, aos lamentos escondidos, a
fortaleza instável.
Sede de correr, sede de fazer, sede de ser um pouco mais.
Cede querida, cede as crenças perdidas e inúteis. Cede.
Cede ao calor calmo, ao suor das mãos, ao prazer de somente ser. Cede.
Sede de viver, sede de escrever, sede de sonhar. Sede.
Cede amore, cede. Se entrega a vida sem medo, se entrega a vida sem
dor.
Entrega o controle e o medo da imprecisão. Apaixona-te no teu ser.
Este canto calado cujo som ninguém escuta, esta falta de amor que não
me faz mais nobre, nem mais pura, nem mais calma. Em que caminho, trilha ou
encruzilhada me desencontrei?
Fiz nada parte de tudo. Hoje sou o passado que não vi no presente. Me
esqueci nas memórias que carregava e perdi o que estava a minha frente.
Minha ausência ensurdecedora ocupando os espaços dos intermináveis dias.
Eternidade.
Acordo com saudade do que fui, mas preciso me esquecer. Preciso me
entender e calar o grito silencioso do clamor da minha alma.
Socorro! Preciso continuar a caminhada, a viver sem me perder, sem amar
nas noites lentas que custam a passar. Durante o dia me procuro e não me vejo,
não consigo me encontrar. Como pode alguém assim fazer e continuar?
Será a esperança apenas a ilusão que nos faz caminhar apesar do medo
do recomeçar? Quem foi que com tudo isso concordou sem esperar concordância? Sinto
me esquecida.
E assim navegam os dias, após dia, após dia, após dia, após dia…
Não, o sorriso estampado em meu rosto nada mais é que uma grande farsa.
Meu coração chora noite e dia, noite e dia.
Chora pelo desamor do mundo, pelas esperas sem fim, pelos amores
perdidos, pelas vidas interrompidas recomeçando freneticamente sem nunca descansar.
O velho disco riscado pulando sem parar enquanto a vida vaza por dentro de mim.
O velho disco riscado pulando sem parar enquanto a vida vaza por dentro de mim.
Tudo é nada do que parece.
Nada é tudo que não se tem, que se perdeu, que se esqueceu.
Nada. Tudo. Sou eu quem crio esta dicotomia ou ela existe em si?
O que há entre o nada e o tudo? O morno, o diálogo insensato, o meio
amor, o silêncio frágil, a carência da vulnerabilidade, o terror da cumplicidade.
A infama estabilidade?
Não sei, nunca tive, mas tentei. Não sei. Não sei. Não sei…
(Grafia não
atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que
entrou em vigor no Brasil em 2009.)