quarta-feira, setembro 12, 2007

Hino à Liberdade

The Oscar Peterson Trio - Hymn to Freedom



(aperte o play para ler o poema com fundo musical)

Acabo de voltar da padaria.
Fui jogar na loteria.
Vamos ganhar 6 milhões.
Alegria, alegria!

Duas entrevistas de emprego não deram certo,
o gato tira uma soneca na janela.
O jantar não foi feito,
a cama não foi feita,
nem a louça lavada…

De que vale uma dona de casa
que não gosta de fazer nada?

Alguns nasceram para isso,
outros para aquilo.
Sei que nasci pra um pouco de tudo
e nada mais.

São tantas as opções
que poderia ser tudo que gostaria
e um pouco além.

Peixe nasceu para nadar,
eu para cantar.
Ao menos inventar canções
e dançar no meio da sala.

Adoro beijar minha empregada,
meus clientes amam ver a casa arrumada.
Gosto de fazer gente triste dar gargalhada.

Meus presentes são sempre atrasados,
esqueço de ligar nos aniversários.
Mas adoro organizar uma festa,
caminhar no final da tarde,
chorar de felicidade.

Gosto de fazer rima,
cativar amizades.
Colher paixões,
ouvir estória de amor,
chorar em casamento e despedida.

Gosto de cortar a unhas,
comer bolo de fubá,
limpar lugar bem sujo
com cotonete e escova de dente nos cantinhos.

Gosto de arranjar lugar pra tudo,
mandar carta pelo correio,
escrever em papel branco à lápis,
tirar fotografia,
fazer cd de músicas variadas.

Gosto de esperar trem na Grand Central,
receber flores e arrumar no vaso.
Abrir todas as janelas para o sol entrar.
Cortar alho e cebola
e esperar as pessoas pra o jantar.

Gosto de palavrões como paralelepípedo,
esmerilamento, interindependência
e recauchutagem.

De nomes bem compridos
de filme (The Eternal Sunshine of the Spotless Mind),
livro (A Insustentável Leveza do Ser),
barzinho (As Últimas Nuvens Azuis do Céu da Alameda Principal -
este me mata de emoção! Não existe melhor!)

Gosto do cheiro de café passado,
de pãozinho saído do forno,
de bolo de chocolate com requeijão.

Trabalhar ouvindo música clássica,
tomar banho depois da praia,
olhar minha cara no espelho de cabelo penteado e molhado.
Vestido branco, colar azul,
anéis de pedras grandes coloridas.

Gosto de declaração de amor (quem não gosta?),
de cheiro de carro limpo e roupa lavada.
Não gosto de limpar privada.

Gosto de começar projeto novo
e ver resultado imediato.
De deixar cliente feliz e realizado.

De ver velhinhos caminhando de mão dada,
crianças dando risada.
Estrela cadente,
Vento quente.

De dar conselho quando me pedem,
ajudar quem precisa
com o meu conhecimento disto ou daquilo
(me sinto super importante!)

De ver show de música no parque,
dançar de parzinho,
e beijar devagarinho.

Gosto de esquecer, mudar e sair da rotina.
Flor roubada do vizinho,
Tomar vinho.
Gosto de ser menina.
E de canto de passarinho.

Ah! Pra que ser dona de casa?
Na falta de opção a gente vai,
mas se puder
prefiro escrever
até o dia escurecer…

6 comentários:

Anônimo disse...

Olá querida,
Começo meu dia com este hino à liberdade.
Você tem razão, tem muito mais para se gostar além daquilo que nos é imposto.
Por que forçamos tanto a natureza nos obrigando as convensões daquilo que é próprio?
Nunca quis ser entendida, apenas respeitada nas minhas preferências.
Como é difícil ser respeitada quando se pensa livre.
um grande beijo

Anônimo disse...

Nossa!
Que delícia!
Tão Cecilia Meirelles, Manoel Bandeira, Carlos Drummond!...
Ah! Eu amei! Três vêzes amei!...
Maravilha!
Continua, continua...você vai ver, logo mais estará publicando o primeiro livro!...

acasadobanho disse...

Parabens Déia, sou seu fã há + de 13 anos, quando suasprimas me mostravam suas cartas.....
Não sou o primeiro a te dizer e nem serei o último, que seu talento é realmente impressionante!
E apesar da poesia ser "duca", ouví-la com Oscar Peterson realmente fez diferença..
Desejo maior sucesso como escritora e dona de casa. Rsssss
Beijos Beto

Anônimo disse...

Querida Andrea, você é realmente uma poetiza cronista ou uma cronista poetiza.

O fato é que eu adorei ler seu Hino à Liberdade. É isso aí garota, um beijo e a admiração da prima.

Anônimo disse...

An
(peguiça de escrever o resto... mas não de escrever óbvio entre parênteses...)
Amei sua crônica poesia.

Beijocas.

Anônimo disse...

Vc pode continuar me mandando suas estorias sim.... sempre gosto de ler o que vc escreve....

Um beijo muito, muito, grande tá?

Mau