domingo, setembro 16, 2007

2008


Estamos no dia 15 de setembro de 2007 e os calendários para 2008 já estão a venda. Que pressa! Não sei nem se estarei viva amanhã e já estão querendo que eu gaste dinheiro em 2008!

Mas me encasquetei. 2008 estará aí num piscar de olhos e o papai Noel vai passar tão correndo em minha janela que se ele conseguir acertar a mira e deixar um presente no quarto da minha filha vai ganhar um beijo. Aliás, este ano vai ser difícil. Ela está começando a racionalizar demais esta estória de papai Noel. Resolveu, o mês passado, que não vai escrever cartinha nenhuma pra ele pra ver se ele acerta mesmo o que ela quer… Danada! (Esta foi da minha avó!) E como é que se resolve este problema seríssimo da minha vida? Eu quero que ela acredite em papai Noel até os 21 anos de vida, caramba! Vou consultar uns livros, as amigas, ligar para a terapeuta, ou a professora, não sei…

Por que criancinhas têm que crescer? Elas são tão lindinhas e inocentes e bobinhas e inteligentes com 3, 4 anos! Minha filha está ficando uma mocinha e é muito esquisito. Filho quando é pequeno a gente nem imagina virar gente grande, mas de repente uma década se passa e outra também, a vida vai indo, continuando e eles não param de crescer! Dá dó!

Semana passada a vizinha da minha irmã comprou uma geladeira nova e tinha uma caixa de papelão dum tamanho de um bonde no meio da rua. Levamos para dentro de casa e a engenhosa da senhora minha irmã fez um sonho de uma casinha que até eu brinquei lá dentro e chorei de emoção! Que delícia. As crianças ficaram loucas! Uma mansão! Janela, porta, cortininha, até iluminação tinha. E aqueles tiquinhos de gente abrindo e fechando janela, saindo e entrando pela porta, fazendo a maior festa.

Me fez lembrar as nossas casinhas feitas de coisas que tinham no cantinho escuro e geladinho da garagem da Rua Madalena. Era um sonho de uma favelinha. Nós brincavamos muito de casinha também em uma das casas que meu Tio Toli alugava. Embaixo da escada tinha uma portinha com uma janelinha redonda cheia de buraquinhos. Deveria ser um lugar minúsculo, mas que pra mim cabia tanta coisa: as bonecas das minhas primas e duas ou três crianças. Talvez até quatro. Éramos tantos pequeninos correndo pela casa. Alexandre, o mais velho, enchendo o saco de todo mundo, só porque era o mais velho…

A casa da minha tia era sempre uma festa. Eu adorava ir lá, brincar de tudo um pouco o dia inteiro e comer pão francês com açúcar e leite. Achava chiquérrimo. Não sei porque não se comia pão com açúcar na minha casa… Éramos sete primos, e sempre tinha umas trocentas mais crianças da rua entrando e saindo. Mas o pão francês com açúcar, pra mim, era o auge do negócio! Engraçado, não lembro muito dos adultos. Aliás, pensando bem, será que eles estávam por lá?

Brincar com as bonecas e ursinhos embaixo da escada, subir e descer escada, se esconder do Alexandre, fugir dos pequenos, era o lance. Batuta pra caramba!

Lembro o dia que descobri que papai Noel não existia. Não fiquei frustrada nem nada, me achei a espertona, crescida, madura menina que já sabia tudo. Tinha tanto toquinho que ainda acreditava, e a gente queria mais é fazer graça para eles. Foi um natal na casa do meu tio, uma das casas que tinha uma janela grande na sala. Aquele ano elegeram um adulto bem magrelo pra ser o dito cujo. Não me lembro o ano, só lembro que o papai Noel era muito magro e não deu pra disfarçar! Saquei na hora. Estávamos todos os primos lá, inclusive o Pedrinho e o Matheus, aí que eu me senti mais importante ainda pois eles eram mais velhos, e então eu já podia fazer parte deste grupo “papo cabeça” que tinha descoberto o segredo do mundo antes do que eu.

Na verdade, confesso, no final da noite vimos pela grande janela da sala um papai Noel gordinho correndo no meio da rua, provavelmente o vizinho. Fui dormir meio na dúvida, feliz. O cara é muito legal, que custa ele existir mesmo?

Mas logo que voltaram às aulas, o assunto foi resolvido na minha cabeça nas conversas com as amiguinhas. Então encontrei algum conforto, ao menos, que eu não era mais bobinha em acreditar nestas coisas…

E o mundo querendo que eu planeje meu ano de 2008 quando eu ainda quero acreditar em papai Noel… Que saco!

quarta-feira, setembro 12, 2007

Hino à Liberdade

The Oscar Peterson Trio - Hymn to Freedom



(aperte o play para ler o poema com fundo musical)

Acabo de voltar da padaria.
Fui jogar na loteria.
Vamos ganhar 6 milhões.
Alegria, alegria!

Duas entrevistas de emprego não deram certo,
o gato tira uma soneca na janela.
O jantar não foi feito,
a cama não foi feita,
nem a louça lavada…

De que vale uma dona de casa
que não gosta de fazer nada?

Alguns nasceram para isso,
outros para aquilo.
Sei que nasci pra um pouco de tudo
e nada mais.

São tantas as opções
que poderia ser tudo que gostaria
e um pouco além.

Peixe nasceu para nadar,
eu para cantar.
Ao menos inventar canções
e dançar no meio da sala.

Adoro beijar minha empregada,
meus clientes amam ver a casa arrumada.
Gosto de fazer gente triste dar gargalhada.

Meus presentes são sempre atrasados,
esqueço de ligar nos aniversários.
Mas adoro organizar uma festa,
caminhar no final da tarde,
chorar de felicidade.

Gosto de fazer rima,
cativar amizades.
Colher paixões,
ouvir estória de amor,
chorar em casamento e despedida.

Gosto de cortar a unhas,
comer bolo de fubá,
limpar lugar bem sujo
com cotonete e escova de dente nos cantinhos.

Gosto de arranjar lugar pra tudo,
mandar carta pelo correio,
escrever em papel branco à lápis,
tirar fotografia,
fazer cd de músicas variadas.

Gosto de esperar trem na Grand Central,
receber flores e arrumar no vaso.
Abrir todas as janelas para o sol entrar.
Cortar alho e cebola
e esperar as pessoas pra o jantar.

Gosto de palavrões como paralelepípedo,
esmerilamento, interindependência
e recauchutagem.

De nomes bem compridos
de filme (The Eternal Sunshine of the Spotless Mind),
livro (A Insustentável Leveza do Ser),
barzinho (As Últimas Nuvens Azuis do Céu da Alameda Principal -
este me mata de emoção! Não existe melhor!)

Gosto do cheiro de café passado,
de pãozinho saído do forno,
de bolo de chocolate com requeijão.

Trabalhar ouvindo música clássica,
tomar banho depois da praia,
olhar minha cara no espelho de cabelo penteado e molhado.
Vestido branco, colar azul,
anéis de pedras grandes coloridas.

Gosto de declaração de amor (quem não gosta?),
de cheiro de carro limpo e roupa lavada.
Não gosto de limpar privada.

Gosto de começar projeto novo
e ver resultado imediato.
De deixar cliente feliz e realizado.

De ver velhinhos caminhando de mão dada,
crianças dando risada.
Estrela cadente,
Vento quente.

De dar conselho quando me pedem,
ajudar quem precisa
com o meu conhecimento disto ou daquilo
(me sinto super importante!)

De ver show de música no parque,
dançar de parzinho,
e beijar devagarinho.

Gosto de esquecer, mudar e sair da rotina.
Flor roubada do vizinho,
Tomar vinho.
Gosto de ser menina.
E de canto de passarinho.

Ah! Pra que ser dona de casa?
Na falta de opção a gente vai,
mas se puder
prefiro escrever
até o dia escurecer…

FREE HUGS



All The Same - Sick Puppies

I don't mind where you come from
As long as you come to me
I don't like illusions I can't see
Them clearly

I don't care no I wouldn't dare
To fix the twist in you
You've shown me eventually
What you'll do

I don't mind...
I don't care...
As long as you're here

Go ahead tell me you'll leave again
You'll just come back running
Holding your scarred heart in hand
It's all the same
And I'll take you for who you are
If you take me for everything
Do it all over again
It's all the same

Hours slide and days go by
Till you decide to come
And in between it always seems too long
All of a sudden

And I have the skill, yeah I have the will
To breathe you in while I can
However long you stay
Is all that I am

I don't mind...
I don't care...
As long as you're here

Go ahead tell me you'll leave again
You'll just come back running
Holding your scarred heart in hand
It's all the same
And I'll take you for who you are
If you take me for everything
Do it all over again
It's always the same

Wrong or right
Black or white
If I close my eyes
It's all the same

In my life
The compromise
I close my eyes
It's all the same

Go ahead say it you're leaving
You'll just come back running
Holding your scarred heart in hand
It's all the same
And I'll take you for who you are
If you take me for everything
Do it all over again
It's all the same

segunda-feira, setembro 10, 2007

Amar faz mal a saúde!

O Ministério da Saúde de Kíthira adverte:
Amar pode causar palpitação,
Dor de barriga, diarréia.
Suor na palma da mão.
Pode causar loucura, ansiedade.
Falta de apetite, alucinação.

Pode causar frio na barriga,
Suor na testa, insegurança e até depressão.
Por estas e por outras,
O Ministério adverte:
Ame, mas sem muita pretensão!

sexta-feira, setembro 07, 2007

Tempo Parado

Diretamente da ilha de Kíthira, encontro-me neste tempo parado que tanto procurei.

Consegui parar o tempo. E nos minutos parados sentir o vento parar.
Consegui fazer meu coração parar de bater. E respirar o mundo dentro do meu ser.
Consegui abrir o céu sobre a minha cabeça. E deixar penetrar o ar do infinito.

Engraçado, nunca estive tão sozinha. Nunca passei tantos momentos só sem ansiedade. É como se o universo me abraçasse confortavelmente como um cobertor fofinho. Vejo o filme da minha vida passar em minha frente sentindo cada emoção lentamente. Choro e dou risada. Fico brava e pulo de alegria. Cada vitória, cada batalha, cada derrota.

Me orgulho de ser quem sou.

Defeituosa e imperfeita, tendo ferido e sido ferida. Em minha plenitude sendo amada. Ah! Já fui tão amada... Amada mesmo, de fundo de corações cheios de sonhos e ilusões, de homens tão imperfeitos quanto eu.

Aahh! Que ar rarefeito, que vida vivida! Quanta paixão esquecida, quanto tempo perdido brigando, quanto tempo que passou voando porque eu estava amando. É verdade mesmo quando algum poeta aí da vida afirmou que aquele que nunca amou nunca viveu. Será que todo poeta, escritor é um eterno apaixonado?

Estive lendo Drummond e Vinicius e não consigo não chorar. Que vida! Que vida! Será que eu sou assim também: sonhadora, completamente inconsolável, incontentável, surreal? Acho que se fosse artista plástica seria uma Salvadora Dali! As palavras, as palavras... ‘Nos contratos que tu lavras, não vi amor valimento, só palavras e palavras feitas de sonho e de vento...”

Vim pensando no significado do amor, do amor mesmo, este carnal de homem e mulher, que a maioria procura, que todo mundo anseia, espera desassossegado, se agarra desesperadamente quando aparece, enche de expectativa, cultiva com pressa, colhe e sai correndo pra depois se perder...

Eu quero um amor pleno, inabalável, firme. Daqueles que nunca duvida ou questiona, aquele que está por que simplesmente é...
É uma continuação do meu ser, separado de mim mesma. Um complemento brando e singelo, um velho par de chinelos...
Daqueles que de se olhar no fundo dos olhos arrepia toda a espinha, não de tesão, mas desta coisa inexplicável de prazer profundo, que faz vibrar cada célula do corpo e abrir os poros sob a pele. Sutil, lento, saciável. Controlável.

No meu desejo de encontrar fortes emoções para justificar meu descontrole emocional, muitas vezes perdi o que havia de melhor na viagem... A paisagem.

Mas, ah! A minha jornada ainda continua e o céu é tão azul...
O mar é tão verde e salgado...
A areia branca e fina...
E o brisa, ah, a brisa. Esta sim me ama de verdade!